"Admitimos que não temos significância real frente à grandeza do Universo, se é que esta pode ser mensurada."
Este realmente é o único passo. Eu vejo muitas pessoas recaindo, ou nunca conseguindo se recuperar de verdade. Para mim é claro e evidente que para todas estas pessoas, sem exceção, o fator significativo que lhes falta é o primeiro passo. A literatura convencional de recuperação têm relatado exatamente a mesma coisa.
Eu entendo a caminhada da recuperação como uma diarreia que parece não terminar, com tudo o que não presta saindo para fora, em um processo de autólise. Mas ela realmente só começa depois do primeiro passo. E depois de dado este primeiro passo, não tem como voltar atrás.
O primeiro passo então é a única coisa significativa da recuperação, e realmente tem como dividir qualquer buscadorx da recuperação em quem deu o primeiro passo e quem não deu o primeiro passo.
Entretanto, parece que compreender isto é um feito quase impossível para a grande maioria das pessoas. Admitir a natureza ridícula humana é uma tarefa sem sentido que tem por consequência a destruição de tudo aquilo que uma pessoa considera como algo a ser valorizado. Não tem como alguém deliberadamente fazer isto. O coerente, são, lógico e recomendado a se fazer seria continuar se agarrando em suas migalhas e fazendo de conta que aquilo ali é bom, suficiente e é tudo o que tem para se ver na vida.
Eu olho para as pessoas e vejo todxs se agarrando em migalhas, como se fosse a coisa de maior valor do universo, e brigando com quem quer que se aproxime como um cão raivoso protegendo o pote de comida. Há quem diga "desta vida não se leva nada" - mas eu olho nos olhos de quem fala isto e em verdade nenhumx delxs realmente entende, compreende o que significa isto. É altamente improvável que estas pessoas realmente vivam de acordo com esta premissa.
Parece que só tem como alguém realmente confrontar sua natureza ignóbil e insignificante se não tiver outra escolha a não ser esta. É o que o livro dos doze passos original parece chamar de "fundo do poço". Recorrentemente pessoas em recuperação orientam outras a "voltar para a rua e encontrar o fundo do poço", mas quem diz isto, está dizendo que não encontrou o próprio fundo do poço em primeiro lugar.
Eu consigo entender perfeitamente porque é que alguém vai lutar pra não admitir que não tem significância real frente à grandeza do Universo. Eu já passei por isto e sei como é ruim para alguém sentir que está diminuindo. Mas qualquer olhar sincero consegue perceber o óbvio: que tudo o que parece ter valor quando estamos com o orgulho inabalado, é um lixo sem serventia aos olhos de quem reconhece sua insginificância.
Se há um fator que pode ser utilizado para fins de comparação então deve ser este: Se tu consegue admitir e aceitar que não tem nenhuma qualidade que te faz superiorx, então não tem como te envaidecer disto. Não tem como ser humilde e se orgulhar disto. Se tu acha que tem alguma coisa de valor, é vaidade.
Veja bem. Não estou dizendo que tu não tem qualidades e que estas não devem ser buscadas. Mas francamente, se isto fosse o teu objetivo tu estaria tomando remédios fortes, ou coisa parecida, e pedindo pras pessoas te elogiarem de forma inconsciente, né? E este ciclo a gente já conhece e é o que estamos tentando destruir aqui, porque é o que te mantém neste estado em que tu te encontra. Se tu acha que não, volta para os remédios fortes e para os elogios que este livro te é inútil.
Mas como é que alguém teria alguma chance de se recuperar algum dia, se é insignificante? Bom, é para isto que existe o segundo passo...